teatroclubeparadoxo

segundo caderno 2010

Posted in Uncategorized by alessandra colasanti on July 5, 2010

caderno b 2008

Posted in Uncategorized by alessandra colasanti on July 5, 2010

correio braziliense

Posted in Uncategorized by alessandra colasanti on July 5, 2010

alessandra, resenha epistolar

Posted in Uncategorized by alessandra colasanti on February 25, 2009

dsc_0116

resenha francine jallageas

Alessandra

motivada por tua peça porque ela me diz respeito,
te escrevo umas notas de rodapé:
começo pela cor que tingiu os clássicos em tua peça;
o vermelho insistente
(clássico que é clássico deve ser clássico porque é insistente)
da tua bailarina; do batom que delimita-emoldura o contorno da tua boca por onde você emite os tons, os modos, os trejeitos, os fôlegos, os agudos e os graves que os clássicos, quando pensados, citados, esvaziados, blefados, evocam,
ao colã, tule, sapatos, meias, penduricalhos do teu cabelo, esmaltes da tua unha, bebida do teu copo – conjunto excessivo que primeiro avisto conformado em um ângulo de 90 graus, cujos pés estão onde eu esperaria a cabeça e a cabeça onde eu esperaria os pés, alongando-aquecendo os músculos para um balé, para uma dança enfim, ou não, ou simplesmente ali, como deve ficar toda bailarina quando termina a música e fechamos a clássica caixinha de músicas.
E como a clássica caixinha de músicas, uma vez dada a corda, de dentro dela e sobre ela eu vejo um corpo ereto, ao centro, num eixo, a realizar movimentos sem quase sair do lugar, girando em círculos enquanto houver corda.
Tua corda (vermelha, sem dúvida) – a enorme produção de imagens, de literatura, de música, de arte e de cultura do século XX, é que te salva, porque não acaba: é clássica. E se te salva,
também me salva,
terminada a peça, ainda temos corda.
Dizer anticlássico não é o mesmo que dizer clássico? Se me ponho a pensar o que chamamos clássico e o que então poderemos chamar anticlássico, não vejo senão uma coisa só, acrescida dessa fenda: anti. Isto é, um pouco cindido, um pouco metamorfoseando-se em outro, carregando um passado, produzindo um futuro, apontando para um lugar que no entanto só pode ser visto quando nos situamos no antigo lugar (que se desfaz), pois aquilo que consagra-se clássico carrega, se relaciona com os seus antecessores, instaura, assim como você propôs nesse palco, uma tensão ante os clássicos, (está atrás da bailarina-conferencista-jornalista-narradora as imagens do clássico, tal e qual o espelho que toda caixinha de músicas que se preze revela na parte inferior de sua tampa) enumerando-os, trazendo-os, projetando-os e precisamente nesse movimento desfazendo-os, espelhando já uma outra coisa que os nega.
O anticlássico se aproxima da palavra de mesmo radical, emprestada da biologia: o antídoto – contem em si aquilo que quer desfazer e desfaz, contraveneno que é, envenena fazendo uso de uma mesma feitiçaria que o engendra.
O espelho reflete e ao mesmo tempo cega, ou, o reflexo produz uma similitude que já é outra.
O anticlássico é como o recém-nascido; extensão e constituição de uma mãe e que, no entanto, é outro, e que, à medida que cresce, é cada vez mais outro e ao mesmo tempo, irremediavelmente herdeiro dessa mãe.
Dê o nome de tradição à mãe e chame o pai de clássico.
O clássico é o piano de Cage e o anticlássico é o yamarra de João Velho.
Estamos ouvindo, por quatro minutos e trinta e três segundos, os dois, em silêncio. (francine jallageas)

2.10.07

publicada em:

http://www.martaatravesdoespelho.blogspot.com/

A conquista de uma ambigüidade

Posted in Uncategorized by alessandra colasanti on February 25, 2009

dsc_0025

A conquista de uma ambigüidade

Resenha João Cícero

Revista bacante 02/10/07

por João Cícero
Foto: Álvaro Riveros

 

 

« Avant Garde ou Ava Gardner?”. Essa é a pergunta final que Alessandra Colasanti lança à platéia em Anticlássico – uma desconferência e o enigma vazio, que está em fim de temporada no Sesc de Copacabana. Pode não parecer, mas tal pergunta traz uma discussão sobre o sentido do próprio trabalho da atriz, e cita, ao mesmo tempo, o “Ser ou não Ser” (irônico) de Hamlet, que é personagem, deslocado, e diminuído, na peça. Colasanti não é, e nem poderia ser, uma coisa e nem a outra. Ela o é, entretanto, por conta da falência que se dá na própria peça de ser inventiva ou uma bobagem. A peça é, ao mesmo tempo, essas duas coisas, pois não há despretensão (o que hoje em dia é muito fácil), mas uma ridicularização de sua própria pretensão, um rir-se de si mesmo desavergonhado. Ninguém sem pretensão pesquisa tantas e tantas citações de textos ligados à academia. E quem costuma fazer isso geralmente critica o outro, o acadêmico tísico que gosta de filosofia, não o seu próprio ato de citar. Estamos num país não acadêmico, de atores ainda não acadêmicos. Aqui, o intelectual ainda é o bacharel ou o poliglota, no máximo o romancista-escritor, nunca o filósofo. E citar filósofos sempre esteve em baixa – ou, em alta, só para um público muito sui generis. Neste caso, acredito que a atriz funcione como um espelho autocrítico, visto que a própria caricatura híbrida, pouco natural, composta por Alessandra, não remete a nenhuma figura pública, só à dela mesma, à de performer.

O problema que a pergunta final instaura na peça está amalgamado na personagem híbrida criada pela atriz: uma bailarina de vermelho conferencista – meio musa e intelectual -, mas o humor é de vedete, de atriz de boulevard, nada parecido com um ‘humor sofisticado’, e o ritmo da peça é envolvente até demais. Chamo atenção para uma relação: Pauline Kael achava lúdicas as citações feitas pelo jovem Godard, que para nós parecem muito sofisticadas. A crítica mostrava que ele citava Montaigne (trechos muito conhecidos pelos cinéfilos franceses), Rimbaud (do mesmo modo), Van Gogh, etc. É a citação do já conhecido que o aproximaria, segundo Kael, do ingênuo e do lúdico. A construção de Alessandra não se dá do mesmo modo, nem poderia, é um outro contexto. Não se vive numa cultura onde as citações filosóficas de Foucault e de Benjamin sejam um lugar-comum, ao contrário, aqui, elas são tratadas como especiarias. E a graça é que a performer ri de sua pesquisa de campo, que alguns professores universitários considerariam suficientes. Constrói-se, na pergunta, também um outro paradoxo e que é próprio de nosso teatro contemporâneo: ser alternativo ou ser a musa (ganhar o Oscar e o prêmio Shell)?

“Onde está o autor?”, pergunta de Foucault feita na desconferência. Ele não existe como um sujeito centrado, mas sim personalizado na força desses dois discursos que se inscrevem sobre o nosso teatro que é derivado de um outro lugar. É a bailarina russa, o texto estrangeiro, a contemporaneidade-teórica made in exportação. E se possível com o exagero de uma pronúncia perfeita em língua estrangeira. O próprio título intriga porque brinca com essa tendência do teatro contemporâneo carioca de pôr nomes longos e pseudo-filosóficos, sempre com alguma composição abstrata, assim como “o enigma vazio”. Porém, ao invés de se ver uma atriz muito profunda, ou de um naturalismo elegante, se vê uma atriz exagerada, de perna aberta, mostrando sua bunda e piscando para a platéia.

Há uma citação de Walter Benjamin que é feita assim: “Benjamin, adorooo!”. Total desconstrução, pois coloca na horizontal o nome do crítico numa inflexão, ou jogo cênico, de um besteirol. Não é um lugar nobre, mas também não é pejorativo. Quando numa cena de besteirol, alguma personagem diz: “sexo, adorooo!”, ou “malhar adorooo”, nunca se pensa que a personagem está diminuindo o sexo, pelo contrário, é nessa leveza que o sexo a apraz, e que não é católico. É evidente, que nesses espetáculos de besteirol, talvez, falte uma tensão, o ordinário está posto no seu lugar seguro. A diferença aqui é a retirada e a colagem que não é nada didática. Quem sabe quem é Walter Benjamim entende a piada, quem não sabe, fica sem entender. E o autor é gostoso como o sexo.

É difícil enquadrar o trabalho de Colasanti. Seria possível chamá-lo de peça ou de “performance cool”, de Teatro dos mais antigos (da atriz histriônica) ou peça contemporânea. Nada disso importa. O bom é a conquista desta ambigüidade: “Avant Garde ou Ava Gardner?” (João Cicero)

2.10.07  

resenha publicada em

http://www.bacante.com.br/revista/critica/anticlassico-uma-desconferencia-e-o-enigma-vazio-2

A ALTA CULTURA COMO PRIMA-DONA

Posted in Uncategorized by alessandra colasanti on February 25, 2009

anticlassico-foto-alvaro-riveros-0031tr

A ALTA CULTURA COMO PRIMA-DONA 

por ROBERTO ATHAYDE

(dramaturgo autor de Apareceu a Margarida)

 

A nova peça de Alessandra Colasanti, Anticlássico Uma Desconferência e o Enigma Vazio, apresentada como “work in progress” no Salão Carioca de Humor, é uma proposta que ao mesmo tempo celebra e ataca a alta cultura no que ela tem de mais ambíguo: no seu narcisismo. A atriz/autora aparece caracterizada como prima ballerina dando uma ‘desconferência’ que, para começo de conversa, derruba a quarta parede do palco e faz o público partícipe de uma ação dramática fictícia. O público não bisbilhota uma ocorrência discreta através do mistério da contemplação, mas recebe um papel a ser representado, e sua passividade de platéia é ativada por várias atribuições. A principal me parece ser a pré-suposição de que não veio para um mero divertimento teatral e sim para escutar a palavra erudita de uma conferencista que questiona a vanguarda da alta cultura: o dilema de um pós-modernismo que se desincumbe até da obrigação mínima de ter sentido. A peça pede ao público que faça o papel de quem tem uma avidez cultural suficiente para abordar o próprio ‘enigma vazio’, com o seu cortejo de perplexidades, com o negativo, com os limites da epistemologia e com a própria finitude. Mas lhe oferece também um outro papel, muito mais apetitoso, que é o de receptor da alta cultura como simples cortesia, o apanágio mais glamoroso de que nós humanos podemos usufruir. A ‘desconferencista’ tem um assistente (o ator João Velho) que nos dá cultura materializada em chá, café, biscoitinhos e alguns pequenos trechos de música. Uma vez o público colocado nesse papel, simultaneamente de crítico sério porém merecedor do refresco de um pequeno lanche, o texto despeja um caudal  de cintilante ironia em que o ‘enigma vazio’ se apresenta recheado do mais completo e descarado narcisismo. A bailarina nos lança uma bateria de dúvidas e até queixumes que soam humildes em seu desejo de auto-desconstrução ao mesmo tempo em que displicentemente vai edificando e fabulando o ego monstruoso de uma celebridade mitômana. O name-dropping da diva vai num crescendo que logo atinge o divertidíssimo nonsense de seus disparates ao passo que o assistente da ‘desconferencista’ começa a nos brindar com o refresco de suas oferendas. A alta cultura é mostrada como embuste, cortesia e divertimento. Mas acontece que o assistente é um punk. Ele é uma figura dúplice de solicitude com um ar vagamente ameaçador. Logo se esboça uma possível relação da estrela com o acólito, que hesita entre o profissional e o íntimo. Essa relação introduz um outro plano imbricado no agenciamento de ironias da ‘desconferência’. A ironia tem a virtude de enunciar ao mesmo tempo em que abre um espaço indicando o contrário do que está dizendo. O grande Vladimir Jankélévitch, em seu livro L’Ironie, diz (minha tradução): ‘É preciso escolher entre a intimidade e a justiça. Ironizar é escolher a justiça’.  Nesse contexto, em Anticlássico, Alessandra Colasanti escolhe sempre a justiça, mas insinua que ela possa não ser constante. Sua descontração amiga e modesta para com a platéia é mostrada em flagrante falsidade através do delírio megalômano da diva que alardeia intimidade só com celebridades, vivas ou mortas, num engraçadissimo turbilhão de absurdo. Só o ajudante, com sua postura ambígua de punk prestativo, parece ter um potencial de ameaçar a bela solidão da prima-dona com seu enigma vazio, que se pavoneia tentando ser simples… na ribalta, vestindo um tutu vermelho. Talvez fora do palco a prima-dona caia numa verdadeira intimidade (já necessariamente injusta segundo o ilustre filósofo franco-russo), mas que, dada a atuação do personagem punk de João Velho, se nos antoja talvez horrivelmente sadomasoquista. A estrela sobe: até os páramos de uma alta cultura que se ilumina e se glamoriza até a desconstrução aporética, mas suspeitamos possa ser humilhada na obscuridade do camarim. 

         A peça de Alessandra Colasanti, com sua saudável derrubada da quarta parede e sua estonteante escalada no humor sofisticado, desconstrói a alta cultura deixando-a completamente vulnerável ao riso. Mas também edifica a inteligência e envolve o público em certos dilemas básicos da vida e assim acumula todos os méritos do ato teatral. (Roberto Athayde, 2007)

 

HIGH CULTURE AS A PRIMA DONNA
by ROBERTO ATHAYDE
(playwright, author of “Apareceu a Margarida” )

The new play by Alessandra Colasanti, Anticlássico Uma Desconferência e o Enigma Vazio (Anti-classic – a de-conference and the empty enigma), performed as a “work in progress” in the Salão Carioca de Humor (Carioca Humor Lounge), is a proposal which, concomitantly celebrates and bashes high culture at the core of its ambiguity: its narcissism. The actress/playwright is described as a prima ballerina giving a “de-conference” who, to begin with, brings down the fourth wall of the stage and makes the audience take part in a fictional drama. The audience does not peek into a discreet occurrence through the mystery of contemplation, it is actually given a role to play, and its passivity as an audience is activated by various tasks. The main one is, it seems to me, the assumption that it has not come to a mere theater entertainment, but to hear the erudite word of a lecturer who questions the vanguard of high culture: the dilemma of a post-modernism that acquits itself of even the obligation of merely making sense. The audience is asked to play the role of someone who has enough cultural eagerness to address the very “empty enigma”, with its host of concerns, the negative, the limits of epistemology and the very finitude. But it also offers the audience a different role, much more appetizing, of receiver of high culture as a mere courtesy, the most glamorous bounty human beings can enjoy. The ‘de-lecturer’ has a sidekick (actor João Velho –Old John), who brings us culture embodied in tea, coffee, biscuits and some small snippets of music. Once the audience is placed in this role, both as a critic but also seriously worthy of a refreshing snack, the script pours out a stream of scintillating irony in which the “empty enigma” displays the most unmitigated and barefaced narcissism. The ballerina poses a battery of questions and even grievances, which sound humble in her desire for self-deconstruction, while, at the same time, she goes on carelessly building and concocting the monstrous ego of a mythomaniac celebrity. The diva’s name-dropping keeps on mounting to a crescendo that soon turns into hilarious nonsense while the “de-lecturer’s” sidekick begins to provide us with the refreshment of his offerings. High culture is debunked as a hoax, just fun, a courtesy. But it just so happens that the sidekick is a punk. He is a dual figure of solicitude with a vaguely menacing air. Soon, the outline of a possible relationship between the star and the acolyte, who hesitates between a professional and intimate demeanor, is hinted at. This relationship adds another overlapping level in the management of the “de-conference” ironies. Irony has the virtue of making room to indicate the exact opposite of what you say. The great Vladimir Jankélévitch in his book “L’Ironie” says (my translation): ‘We must choose between intimacy and justice. By mocking, we choose justice.” In this context, in Anticlássico Alessandra Colasanti always chooses justice, but insinuates it might not be constant. Her friendly and humble carefree attitude with the audience is shown as a flagrant falsehood by the diva’s megalomaniacal delusion, who boasts closeness only with celebrities, living or dead, in a hilarious maelstrom of absurdities. Only the sidekick, with his ambiguous helpful punk attitude, seems to have the potential to threaten the beautiful solitude of the prima donna with her empty enigma, who peacocks around by striving to be simple … in the limelight, wearing a red tutu. Perhaps offstage the diva falls into a real intimacy (necessarily unfair according to the illustrious Franco-Russian philosopher), but, given the actions of the punk character João, a dreadful sadomasochism pops into view. The star rises to the very upper reaches of high culture, which shines through and glamorizes the aporetic deconstruction, but we suspect this star may be cut down to size in the dark dressing room.

Alessandra Colasanti’s play, with her healthy demolishment of the fourth wall and breathtaking rise into sophisticated humor, deconstructs high culture, leaving it completely vulnerable to laugh. But it also builds up intelligence and involves the audience in certain basic life dilemmas and thus accumulates all the merits of the theatrical act.